Poucos meses depois de declarada pandemia, em maio de 2020, um estudo publicado no periódico Nature relatou casos de cães infectados em casas de pessoas que testaram positivo para a covid-19 em Hong Kong. Dos 15 animais examinados, dois estavam infectados pelo sars-cov-2. Na época, o que os pesquisadores sugeriram é que a transmissão homem-animal poderia acontecer, no entanto, não estava claro se o inverso era verdadeiro.
Passado quase um ano desse trabalho, as evidências científicas sobre o tema não parecem ter mudado. Recentemente, Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, da sigla em inglês) atualizaram seus pareceres sobre o assunto. A OIE é enfática ao descrever que “não há evidências de que os animais de companhia estejam desempenhando um papel epidemiológico na disseminação de infecções humanas por sars-cov-2″. O CDC, por sua vez, diz que a maioria dos registros ocorreu após os animais terem contato próximo com humanos contaminados. E complementa: “Com base nas informações limitadas disponíveis até o momento, o risco de os animais disseminarem a covid-19 para as pessoas é considerado baixo”.
Em uma ficha técnica atualizada em janeiro, a OIE detalhou o grau de suscetibilidade de caninos e felinos à infecção por sars-cov-2 e também a capacidade de transmissão deles. De acordo com o documento, os gatos têm alta suscetibilidade à infecção (natural e em laboratório), porém, só transmitem o vírus entre felinos. Já os cães têm baixa suscetibilidade (natural e em laboratório) e não transmitem o sars-cov-2.
— Temos menos de 10 detecções no Brasil. Claro que tudo muda, mas por enquanto, os gatos não participam como transmissores. Eles são vítimas do processo — destaca Fernando Spilk, professor de virologia do curso de Medicina Veterinária da Feevale.
Estudo nacional descarta transmissão
O estudo multicêntrico PET Covid – conduzido por universidades federais brasileiras de seis capitais e com o objetivo analisar o risco de transmissão homem-animal – encontrou os mesmos achados das pesquisas internacionais, descartando a disseminação de sars-cov-2 de felinos e caninos para humanos.
— Até agora, após todos esses meses de pandemia, os resultados que temos nos levam a concluir que cães e gatos não participam do ciclo de transmissão do vírus. Embora se infectem e possam demonstrar alguns sinais respiratórios ou digestivos, no geral, não se detecta mais o vírus no animal após três a 15 dias, dependendo da espécie — disse o coordenador do estudo, Alexandre Biondo, em dezembro, ao site da UFPR.
O trabalho brasileiro, anunciado em outubro de 2020, também afirma que não há relatos de doenças em espécies animais provocadas pelo sars-cov-2. Isto é, a covid-19 afeta apenas humanos.
Cuidados
Biondo acrescenta que essa contaminação entre humanos e animais ocorre acidentalmente, por meio do contato com gotículas da pessoa infectada. Dessa forma, a recomendação é, quando infectado, o tutor deve evitar contato com seus pets.
— Assim como se faz distanciamento das outas pessoas da casa quando se está positivado, o ideal é fazer o mesmo com os animais. Não é jogar para a rua, mas ter menos contato, não dormir junto, fazer menos carícias para evitar que eles peguem — indica Spilk.
Caso não seja possível evitar o contato, o CDC indica que medidas de higiene e proteção, como uso de máscara, sejam reforçadas. Outra orientação é evitar que os animais de pessoas infectadas tenham contato com pessoas de fora do domicílio.
Fonte: GZH Saúde
Foto: BravissimoS/Getty Images