O caso de Rafaela não é uma exceção no país. Duas em cada três mulheres (66%) que engravidaram no país não tinham planejado o ato, conforme dados da Pesquisa Nacional de Aborto (PNA) de 2021. Outro dado que chama atenção: uma em cada sete mulheres próximas dos 40 já realizou ao menos um aborto..
No intuito de melhor prevenir a população contra a gravidez indesejada, as Unidades de Atenção Primária à Saúde, de Saúde da Família, e Básicas de Saúde, oferecem atendimento de planejamento familiar, como explica a mestre em saúde coletiva e referência técnica em saúde da mulher da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Dândara Santos.
“Nesses locais há profissionais capacitados para realizar as consultas de planejamento reprodutivo e orientar sobre os métodos contraceptivos disponíveis na rede pública”. Medicamentos, métodos de barreira, cirúrgicos, comportamentais, o que inclui os anticoncepcionais hormonais orais, preservativo interno e externo, vasectomia, laqueadura e outros, além dos métodos contraceptivos de longa duração, como os Dius de cobre, que são os ofertados na rede pública.
Dândara ainda reforça a importância de que os jovens conheçam a existência dessas opções. “Pra fazer uma escolha consciente é preciso ter os métodos disponíveis. Isso vale também para os jovens, que tenham esse conhecimento sobre as formas de realizar a contracepção para evitar a gravidez indesejada”, explica.
Além da distribuição de contraceptivos através da atenção primária à saúde, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) também atua com o Programa de Saúde na Escola (PSE) para fornecer educação sexual aos estudantes. “É uma política de saúde importante porque atua junto com a educação. Orientamos sobre saúde no geral e entre outras coisas, sobre a educação sexual reprodutiva e a prevenção de ISTs“, comenta Cândida Maria Pimentel, técnica da saúde da mulher da diretoria de gestão do cuidado da Sesab.
Além da divulgação de métodos contraceptivos, a pesquisadora associada ao Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Paloma Silveira, reforça que a educação sexual é um elemento importante nessa equação.
“A educação sexual baseada em direitos reprodutivos e justiça reprodutiva permite que meninas, mulheres e pessoas que gestam conheçam melhor seus corpos e possam fazer escolhas mais conscientes sobre se e quando desejam ter filhos. Ao promover uma educação sexual libertária e autodeterminada, é possível prevenir não apenas gravidezes imprevistas, mas também abortos inseguros, que colocam em risco a vida das mulheres ”, afirma.
Ainda de acordo com os dados da PNA, mais da metade das mulheres que abortaram (52%) o fizeram pela primeira vez ainda na adolescência, sendo que 46% tinham entre 16 e 19 anos, e 6%, entre 12 e 14 anos. No Brasil, o aborto é permitido em casos de estupro, risco de morte para a mãe e anencefalia fetal. Mas, conforme explica Paloma, mesmo nesses casos existem barreiras que dificultam esse acesso. As principais são a falta de informação sobre onde e como os serviços estão disponíveis, além da concentração dos serviços de aborto legal nas grandes cidades.
Outra barreira existente nesses procedimentos é a moral, de acordo com Emanuelle Goés, doutora em saúde pública e pesquisadora associada do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs). Ela expõe também a vulnerabilidade de adolescentes, principalmente meninas negras e de baixa renda, nesse cenário. “Quando olhamos pros extratos sociais temos diferenças. A gravidez na adolescência existe em todas as camadas sociais, mas são as adolescentes negras, mais pobres, que estão no Norte/Nordeste do Brasil, que vão sofrer com a realização de um aborto inseguro”, afirma.
Fonte: A Tarde
Foto: Imagens/TV Brasil