O Março Amarelo começou. O objetivo da campanha é conscientizar a sociedade sobre a endometriose, condição crônica que atinge milhões de mulheres e pode representar um grande desafio para aquelas que desejam engravidar. A doença inflamatória ocorre quando o tecido que reveste o útero cresce em outras regiões do corpo, podendo causar dor intensa e possíveis danos ao sistema reprodutivo. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para preservar a fertilidade e melhorar a qualidade de vida das pacientes.
A advogada Carolina Paes Lopes (34) passou muitos anos lidando com cólicas menstruais incapacitantes sem receber um diagnóstico preciso. “Durante toda minha vida, sempre tive cólicas muito fortes, mas nunca foi levantada qualquer possibilidade de endometriose pelos profissionais médicos que passei”, relata. Somente em janeiro de 2021, quando suspendeu o anticoncepcional e implantou o DIU de cobre, Carolina descobriu a endometriose profunda por meio de uma ultrassonografia transvaginal de rotina, confirmada posteriormente por ressonância magnética.
Com a doença em estágio avançado, ela precisou passar por uma cirurgia em março do mesmo ano. “A dificuldade de engravidar e o risco à minha saúde foram as maiores limitações que a endometriose me trouxe. A cirurgia foi necessária porque a doença já estava bem avançada”, explica Carolina. Após a cirurgia, Carolina enfrentou uma nova batalha: a infertilidade.
“Já vínhamos tentando engravidar naturalmente há um ano, então optamos pela fertilização in vitro (FIV). Foi um passo difícil, tanto do ponto de vista emocional quanto financeiro”, conta. O tratamento durou cerca de seis meses e foi realizado pela coordenadora do Centro de Reprodução Humana do Hospital Mater Dei Salvador (HMDS), Wendy Delmondes. Apesar dos desafios, Carolina engravidou na primeira tentativa de transferência dos embriões e hoje celebra a chegada de suas duas filhas. “A sensação mais incrível do mundo. Me sinto extremamente abençoada”, emociona-se.
Diagnóstico e opções de tratamento – A endometriose é uma das principais causas de infertilidade feminina, mas isso não significa que todas as mulheres com a doença não possam engravidar. Segundo Wendy Delmondes, é essencial realizar uma investigação completa. “Pacientes com diagnóstico de endometriose e que estão com dificuldade de engravidar não precisam considerar esse diagnóstico como causa absoluta e única. Toda a investigação precisa ser completada, inclusive com avaliação masculina”, destaca a especialista em reprodução humana.
A fertilização in vitro é uma das opções mais eficazes para mulheres com endometriose, especialmente nos casos em que a doença compromete o aparelho reprodutivo. “A endometriose pode criar um ambiente inflamatório que dificulta o encontro entre o óvulo e o espermatozoide, impedindo a fecundação. A FIV supera esse obstáculo, possibilitando que o embrião seja formado em um ambiente adequado”, explica Wendy.
Outro ponto importante é que a FIV não piora a endometriose. “Há um protocolo específico para a fertilização in vitro em pacientes com endometriose, e ela é uma alternativa segura para quem deseja engravidar”, acrescenta a médica. Para mulheres que ainda não desejam engravidar, mas têm diagnóstico de endometriose, a preservação da fertilidade por meio do congelamento de óvulos também é uma opção a ser considerada.
Conscientização e esperança – A endometriose ainda é uma doença sub diagnosticada, e muitas mulheres passam anos sem um tratamento adequado. Campanhas como o Março Amarelo são essenciais para disseminar informação e incentivar o diagnóstico precoce. Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), aproximadamente 10% das mulheres em idade reprodutiva são afetadas pela endometriose, mas o tempo médio para o diagnóstico pode ultrapassar sete anos.
Carolina, que hoje se recupera da cesariana e se adapta à nova rotina com as filhas gêmeas, deixa um recado para outras mulheres que enfrentam essa jornada: “A endometriose é um desafio, mas não um impeditivo. Com informação, tratamento adequado e apoio, é possível realizar o sonho da maternidade”, afirma. Sua história reflete a esperança que avanços na medicina podem proporcionar a milhares de mulheres que lutam contra a endometriose. O importante é buscar ajuda especializada e conhecer todas as opções disponíveis para que cada mulher possa trilhar seu caminho rumo à maternidade.
