domingo | 10.11 | 6:32 PM

A seleção brasileira precisa de um treinador estrangeiro

Você consegue ver Dorival levando a Seleção a algum lugar? E pior: você consegue imaginar algum treinador brasileiro levando a Seleção a algum lugar?

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Este texto não pretende ser um ataque a Dorival Júnior. Ele é bom treinador. Costuma fazer trabalhos consistentes, montar equipes equilibradas. É um sujeito sério, correto. E acabou de iniciar seu trabalho. Mas você consegue imaginá-lo levando a Seleção a algum lugar? E pior: você consegue imaginar algum treinador brasileiro levando a Seleção a algum lugar?

Um bom técnico não é suficiente para comandar o Brasil. O posto não exige qualidade: exige excepcionalidade. É por isso que a Seleção precisa de um comandante estrangeiro: porque não há, neste instante, nenhum treinador brasileiro nesse patamar. A questão não é exatamente Dorival: é o momento do futebol brasileiro.

Vejo dois nomes superiores aos demais (ou ao menos diferentes dos demais): Tite e Fernando Diniz. Curiosamente, são os dois últimos treinadores da Seleção (desconsiderada a passagem de Ramon Menezes).

O primeiro fez trabalho longo, montou uma equipe confiável e teve resultados animadores – até morrer nas quartas de final em duas Copas do Mundo seguidas, caindo para Bélgica em 2018 e Croácia em 2022. O segundo foi dinamitado pela CBF depois de um começo com resultados muito ruins.

Os problemas da seleção brasileira, expostos novamente na derrota de 1 a 0 para o Paraguai, terça-feira, são muito anteriores à escolha do treinador. Eles começam na CBF, passam pelo calendário e desembocam na precocidade com que talentos migram para o exterior – enquanto clubes brasileiros, agora de bolsos cheios, começam a trazer promessas mundiais para cá (casos, por exemplo, de Carlos Alcaraz no Flamengo ou de Thiago Almada no Botafogo).

São problemas estruturais, que exigem reformas demoradas. E reformas demoradas dão um trabalho danado – o futebol brasileiro não é lá muito bom nisso de ser paciente.

Dorival em Paraguai x Brasil — Foto: REUTERS/Cesar Olmedo
Dorival em Paraguai x Brasil — Foto: REUTERS/Cesar Olmedo

Então o que resta de esperança? Algum treinador excepcional, uma figura que nos chacoalhe, que bagunce nosso tabuleiro, que nos tire dessa mesmice. Mas quem? Aí cabem algumas perguntas.

Por que os três primeiros colocados no Brasileirão são treinados por estrangeiros? Por que os dois melhores trabalhos desenvolvidos no Brasil nos últimos anos (Abel Ferreira no Palmeiras e Juan Pablo Vojvoda no Fortaleza) foram feitos por dois estrangeiros? Por que o time mais envolvente que vimos jogar por aqui em um passado recente, o Flamengo de Jorge Jesus, tinha um treinador estrangeiro? Por que não há nenhum técnico brasileiro em uma posição de destaque na Europa?

Da mesma forma que não pretende ser um ataque a Dorival, este texto não quer demonizar os técnicos brasileiros. Nacionalidade não exclui, tampouco garante, qualidade. A questão é o momento. Se Tite já passou, se Diniz já passou, se não é Dorival, então quem?

Antes do jogo contra o Paraguai, Dorival deu uma declaração curiosa: garantiu que o Brasil estará na final da Copa do Mundo. Foi uma colocação infeliz, descolada de uma triste realidade: que o Brasil caminha na direção contrária, para longe da primeira prateleira do futebol mundial.